São Thomas More – Literatura e Política

Diego Hernandez

São Thomas More – Literatura e Política

 

 

Olá, bem vindos todos os que estão escutando esta exposição, este bate-papo eu diria, já que haverá a possibilidade de algumas perguntas serem respondidas, sobre Thomas More e a Política, a literatura de Thomas More e a Política. Meu nome é Diego Hernandez, Diego de Jesus Hernandez. Eu sou mexicano e estou morando no Brasil há 15 anos. Sou jornalista. Casado a 19 anos com Rebeca. Nós temos 10 filhos, dos quais um deles está no céu. E eu trabalho como editor de um diário digital, chamado dvox (www.dvox.co), e sou editor colaborador semanal do diário digital Atual. Eu não tenho nenhuma preparação na área da História ou das Letras. Me convidaram para falar de Thomas More e a política, porque, de alguma forma, as obras de São Thomas More para mim são uma paixão, tenho lido boa parte delas, mas a política também é uma paixão.

Me parece que o que Thomas More tem escrito dá muita luz sobre o que hoje é o compromisso dos cristãos, de qualquer homem de boa índole, no mundo de hoje, porque dá uma luz extraordinária para que esse compromisso seja iluminado e sustentado, no meio das dificuldades tão graves que hoje vivenciamos.

Eu vou começar falando do Thomas More, o homem, o político, de forma muito breve, pois vocês podem depois consultar qualquer breve biografia, ver datas, etc, e depois vou entrar propriamente em sua produção literária, que é muito vasta, me focando em três livros e um pouco em suas cartas. O primeiro livro é “A utopia”, evidentemente, pelo tema que estamos tratando, sobre o vínculo do que ele escreveu com a política. O segundo livro é o “Diálogo da Fortaleza contra a tribulação”. E o terceiro livro é “A agonia de Cristo”. Por que vou dar mais ênfase a esses três livros? Porque estamos em um congresso de literatura católica e, infelizmente, o livro mais conhecido de Thomas More é “A utopia”, em detrimento dos outros. Não que “A utopia” seja ruim, ainda que seja muito má interpretada, mas porque os outros livros que escolhi foram escritos na época em que ele estava na prisão e este contexto da prisão, de prever a própria morte, a possibilidade quase real e quase factual da própria morte, o levou a fazer, por assim dizer, uma espécie de resumo de toda a sua espiritualidade nesses dois textos, que são uma herança extraordinária para qualquer homem e para qualquer cristão, mas eu me atrevo a dizer que para qualquer político que hoje poderia ter um alimento espiritual extraordinário na leitura e meditação desses livros.

Vamos começar um pouco com Thomas More, o homem. Ele nasce em 1478. Morre em 1535 com 57 anos aproximadamente. Ele vem de uma família que não é abastada, não é uma família rica, digamos, uma família de classe média de Londres. Ele nasce em Londres. E muito cedo ele é enviado para estudar em Oxford, em 1492. Nesses estudos em Oxford, ele está de alguma forma tendo este contato com as artes liberais e com a educação liberal e ali ele começa a ter contato com os clássicos gregos e com os clássicos latinos pelos quais ele se apaixona e que definem sua vocação filosófica. Sua vocação humanista, melhor dizendo. E que se não fosse pela morte, provavelmente teria sido um grande influenciador do processo da Renascença e do humanismo que se desenvolveu de 1500 para frente. Depois ele passa alguns anos em um pequeno mosteiro onde discerne sobre sua vocação, se vai ser laical ou sacerdotal, em um convento, de 1501 a 1504. E durante esses anos ele percebe que não foi feito e que não é chamado para essa vida sacerdotal e religiosa, e opta por estudar Leis para se inserir plenamente no mundo.

Depois voltarei nesse ponto pois me parece que esse período de discernimento é muito importante na própria produção literária dele. E depois disso, ele estudou Lei em duas grandes escolas de Londres. Termina se formando nelas e imediatamente começa a trabalhar como advogado, onde tem um trabalho muito intenso defendendo a causa de pessoas simples. Ele defendia tanto a causa de pessoas ricas que ele tinha conhecido quando passou pelas universidades, quanto, e sobretudo, de pessoas simples. Tem uma obra de William Shakespeare, pouco conhecida, que fala sobre Santo Thomas More. Claro que ele aborda o tema de More como um santo. E nesta obra, no primeiro capítulo precisamente que trata de um contexto de revolta que se vivia no interior e nos arredores de Londres, ele apresenta Thomas More como esse defensor dos pobres. Mas não com uma atitude demagógica. Não é aquele defensor dos pobres ideológico. É um homem que conhece aos pobres porque vai a casa deles, porque conversa com eles, porque conhece por nome, e que assume a causa deles para que a justiça seja feita. Isso fica muito claro depois, nos anos finais quando está perto de morrer, no “Diálogo da Fortaleza contra a tribulação”, pois ele fala precisamente que bendito o homem que é perseguido, que a tribulação morde sua carne ou sua alma, se ele é perseguido ou atribulado por defender que a justiça seja feita, sobretudo para os mais pobres.

Isto é algo muito importante, que nos leva a contemplar que efetivamente esse amor pelos pobres, que não é nem preferencial e nem exclusivo, é amor pelos pobres e pronto, ao ser humano, etc, e também pelo pobre por ser excluído etc, está no âmago do Thomas More cristão. Se isso foi ideologizado depois pela teologia da libertação, ou algumas das vertentes da teologia da libertação, eu diria praticamente todas. Mas haveria alguma que poderia ser resgatada, ou pelos movimentos pretensamente progressistas, o foi por essa perda dos cristãos terem aberto mão de um esforço social, um compromisso mais intenso na defesa da justiça, no que hoje se chama de justiça social. Mas diríamos simplesmente da justiça. Entre aqueles que não tem a quem apelar para que a justiça seja feita para eles. Isso em Thomas More é muito importante! Isso com certeza vai incidir sobre seu processo de discernimento vocacional, e depois incidirá sobre a escrita de “A utopia”.

 

 

Este post tem um comentário

  1. danielaserrou

    Boa noite, existe tradução em português do “Dialogo da fortaleza contra a tribulação”?

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