Janaína Brito
A literatura na formação das virtudes do Lar
É uma honra e uma alegria muito grande participar desse congresso. Eu estou aqui muito feliz, contribuindo com um pouco da minha história, da minha vida. Eu sou Janaína Brito. Sou mãe, sou esposa, filha de Deus, casada a quase sete anos. Nós temos três filhos até o momento. Hoje vamos falar um pouquinho sobre a literatura na formação das virtudes do lar, como aconteceu a chegada até aqui. Como foi esse trajeto, esse caminho. Eu venho de uma formação católica, mas com uma base bastante feminista. Tive muito conflito nesse processo todo desde o casamento e o início da minha vida familiar. Vou compartilhar com vocês como a literatura nos ajudou, tem nos ajudado e tem construído muitas coisas na minha casa.
Tudo começou quando eu ainda era criança e minha mãe tinha diversos livros em casa. Para a média nacional, o número de livros era até demais. Mas nós não tínhamos um direcionamento de leitura, então, eu tinha acesso a bons livros mas não tinha estímulo para tocar nos livros, para acessar aquele material e aquele conteúdo. Eu lembro com muito carinho do início do ano escolar que nós íamos para as livrarias fazer as comprar e minha mãe nos deixava ali com aqueles catálogos imensos e nós poderíamos escolher os livros que queríamos ler. Então, ao longo da minha vida, eu sempre tive a literatura presente.
Apesar disso, a minha formação foi um tanto quanto complicada. Eu fui bem alfabetizada e eu achava que eu lia razoavelmente bem. Mas quando comecei a estudar na escola, essa leitura compulsória – o que estive a observar um dia desses – foi me deixando meio desmotivada à ler, pois eu tinha que ler aquilo, tinha que dar respostas, algumas vezes até infantis ou que eu não achava que fossem interessantes. Além disso, os livros nos ofereciam na escola eram muito ruins. Tínhamos que fazer aquelas provas em que só importavam as notas e, no meio disso tudo, eu fui formada para ser uma feminista. Não uma feminista declarada abertamente. Não é este feminismo que a gente conhece hoje. Era um feminismo mais interiorizado, mais íntimo, mais no sentido de você não se submeter, de ser criada mulher para ser dona do próprio nariz, para caminhar sozinha, para não depender de ninguém, para não abaixar a cabeça para o meu marido.
Eu me lembro de uma situação em uma escola, já no Ensino Médio, que o professor subia na cadeira e falava para as moças: “eu não estou aqui dando aula para vocês virarem mulher de marido e mãe de filho”. Desse jeito! Aquilo ficava sendo construído e trabalhado em nosso inconsciente. Então, eu não sabia que eu era uma feminista, mas era isso que eu estava me formando. Nesse período, eu era muito arrogante e muito prepotente. Eu achava que eu sabia tudo demais. Uma coisa comum que acontecia em dinâmicas de grupo que eu participava desde jovem na igreja, quando era para falar de algo sobre mim, as pessoas me achavam inteligente. Então, eu me achava muito inteligente.
Eu cheguei à faculdade. Fui fazer Letras na Universidade Federal de Goiás. Era o ano de dois mil e pouco, deixa para lá a data, enfim [risos], e eu fiquei bastante desanimada com aquele ambiente. Eu me sentia hostilizada porque apesar dessa formação feminista, eu também tinha uma formação católica. Era de grupos de jovens, estava ativamente na igreja. Então, vivia esse conflito interno. No fundo, eu queria ser família. No fundo, eu queria ser uma mulher segundo o coração de Deus. Fazer as coisas que Deus queria que eu fizesse. Mas, ao mesmo tempo, eu precisava lutar, eu precisava ser independente, eu precisava dar conta da minha vida, eu precisava trabalhar muito e estudar muito para dar conta de pagar alguém para cuidar da minha casa se eu fosse casar, enfim, coisas desse gênero.
E na faculdade, meu desgosto pela literatura atingiu o ápice. Eu, que lia poesia e tinha livros memorizados de quando era criança, desenvolvi uma certa aversão. Inclusive, essa aversão chegou a tal ponto que mesmo as coisas boas que tinha na faculdade, eu não conseguia aproveitar muito bem. Todos os meus colegas de faculdade podem testemunhar que eu fui uma péssima universitária. Fui terrível mesmo. Faltava muito. E nós passávamos muito tempo perdendo tempo. A verdade é essa. Eu chegava lá e pensava: “Nossa, então é isso que é ser letrado?”. Tinham professoras discutindo o tempo inteiro o conceito de família. “Mas existem novos conceitos de família”. “A gente não é só pai, mãe e filhos”. E isso, naquela época, há quase dez anos atrás.
Então, foi assim. Tive acesso à língua espanhola da faculdade. Aprendi. Li alguma coisa boa. Não aproveitei nada das aulas de latim porque achava arcaico e brega. Achava coisa de gente boba, piegas… Eu achava aquilo incrivelmente desnecessário. Quanto à literatura, especialmente à poesia, eu desenvolvi um ranço. Eu pensava: “Nossa, tem que ser muito ‘cheia do querer’ (em Goiás a gente diz ‘cheia dos querer’ que significa uma pessoa que se acha demais, que está muito elevada). Não, a gente tem que falar do preconceito linguístico, na língua a gente tem que se comunicar da forma que as pessoas entendem e isso é que é o certo!”. Então, a gente passa a faculdade e, ao invés de aprofundar, de dominar mesmo a língua, de conhecer mesmo tudo que existe de bom na língua portuguesa, a gente vai desconstruindo conceitos. Enfim, me formei, consegui me formar.
Veio meu casamento. Quando chegou o João Pedro, que foi nosso primeiro filho, começaram as fases de questionamento: “Agora, eu tenho uma vida que depende de mim integralmente e como que eu vou formar essa criança?”, e nesse meio tempo, grávida, eu já ficava mais em casa. Eu comecei a acompanhar mais de perto o trabalho do Padre Paulo Ricardo e, graças a ele e ao meu diretor espiritual de sempre, eu consegui não me perder totalmente na faculdade. Eu era uma aluna meio desligada, mas isso também me poupou de muita coisa. De ser seduzida pelo universo de estudar sobre o feminismo porque já tinham grupo de estudos naquela época. De ideologias de esquerda e tudo o mais. Então, eu conheci o Padre Paulo Ricardo e fui me redescobrindo como mulher. Acompanhando os cursos dele, e também nesse tempo conheci a Camila Abadie, eu fui percebendo que havia algo de errado em mim. “Mas por que eu sou tão infeliz dentro da minha casa? Por que eu não consigo ser senhora do meu lar? E como que isso acontece? Como ser essa mulher?”. Eu não tinha esse exemplo, então, eu não sabia o que era o papel de uma mulher dentro da casa. Não sabia respeitar o meu marido como ele merecia. Então, era conflito atrás de conflito, luta atrás de luta e, assim, foi começando esse processo de cura.
Então, conheci o professor Olavo de Carvalho, conheci a turma do blog Como Educar Seus Filhos. Eu entrei em choque. Era época de eleição e a gente lutou porque queríamos fazer algo diferente, algo novo para tirar o Brasil dessa situação complicada. Eu fiquei nesse meio. Descobri o feminismo. Foi então que consegui dar nome para aquilo que eu era. Nunca tinha me imaginado feminista, mas me descobri feminista. E muito doutrinada, vamos dizer assim. A partir de então, foi o começo da literatura na minha casa, pois o professor Carlos Nadalim [do blog Como Educar Seus Filhos] estimula que precisamos ter momentos de leitura com as crianças, que é bom para a memória deles, que é excelente para a formação deles a leitura de coisas boas.
