Gustavo Corção

Paul Krause

Gustavo Corção

 

 

Meu nome é Paul Medeiros Krause. Sou formado em Direito pela UFMG, em Belo Horizonte. Sou procurador do Banco Central há 16 anos. Inclusive, ontem completei aniversário de Banco Central. Me dedico ao apostolado do Rosário e da divulgação do Rosário. Pertenço a confraria de Nossa Senhora do Rosário de São João del Rei, que tem mais de 300 anos, e participo de um grupo do Rosário na Catedral de Boa Viagem em Belo Horizonte. Criei, talvez, a primeira página no Facebook do Gustavo Corção – tem aproximadamente 2300 seguidores – dada a importância desse autor, injustamente esquecido. Tenho também um blog chamado Paul Krause, blog católico, cultural e eventualmente jurídico. Estou aqui com o intuito de participar da melhor maneira possível deste importante congresso de literatura católica.

Bom dia, ou boa tarde, caríssimos participantes desse congresso de literatura católica! Nós hoje teremos a honra e o privilégio de falar sobre Gustavo Corção Braga. Um grandíssimo escritor brasileiro e carioca. Um verdadeiro profeta dos nossos dias. Profeta do século XX. Um escritor católico de estilo clássico e que foi chamado de segundo Machado de Assis.

Gustavo Corção Braga nasceu no Rio de Janeiro no dia 17 de dezembro de 1896, na virada do século. Ele foi muito influenciado por aquela situação do Rio de Janeiro, do Rio antigo da virada do século, ainda em um outro ritmo bem diferente do Rio de hoje. O Rio bem mais tranquilo e bucólico. A capital do Brasil e o centro cultural do Brasil. Do Brasil e da América Latina. Ele perdeu o pai bastante cedo. A sua mãe ficou viúva com cinco filhos e ele era o segundo filho e o pai dele, que era um pouco gastador, um pouco desequilibrado com dinheiro, se chamava Francisco Braga e deixou a mãe dele em uma situação muito difícil de penúria financeira. Então, no começo ela teve que trabalhar com costura, apesar de ter uma boa formação, saber francês, saber tocar piano, ela teve que se dedicar à costura.

Ele relata que ela levantava às cinco horas da manhã e trabalhava até altas horas da noite com costura para manter os cinco filhos. Agora, depois de um tempo, talvez com algumas soluções das pendências do inventário, com algum recurso que ela tenha conseguido inventar, ela conseguiu comprar umas carteiras e conseguiu um espaço e teve a genial ideia de criar o Colégio Corção, onde o próprio Gustavo Corção morava. Isso para o bem dele e para o nosso bem, essa maravilha providencial de ele, uma pessoa dotada de uma inteligência totalmente extraordinária, acima da média, ter sido criado dentro de um colégio, a casa dele ser um colégio. Haviam alunos que moravam nesse colégio onde ele também morava e ele começou aprendendo, mas depois passou a ser professor. E sempre com uma inteligência prodigiosa. Aos sete anos ele conseguiu umas lentes e construiu sua primeira luneta e usava essa luneta para tentar encontrar os habitantes da lua.

Com dez anos de idade ele já lecionava aritmética por dez mil contos de réis. Depois, nos esportes, ele também se saía muito bem: ganhou um concurso de saltos na adolescência e depois passou a lutar e se dedicar a esgrima. Teve aula de piano, de violino e depois também de pintura. Se dedicou ao xadrez e quase ganhou um campeonato nacional. Só não ganhou porque ele mesmo abandonou a competição pois dizia que ele tinha, se não me engano, quinze vitórias consecutivas no campeonato e a vitória dele era praticamente certa como campeão brasileiro de xadrez. Teve que abandonar a prova e o campeonato e não levou o título, mas teria ganho.

Uma coisa muito interessante a respeito do Gustavo Corção era essa inteligência diversificada. Normalmente, as pessoas são boas ou muito boas em uma coisa só ou em duas, ou três. Mas ele tinha essa capacidade de se sobressair em tudo que ele fazia, em praticamente tudo que ele fazia. Aos 16 anos, ele prestou vestibular e entrou para a faculdade de Engenharia. A antiga Escola Politécnica que hoje se chama Faculdade de Engenharia da Faculdade Federal do Rio de Janeiro. Depois de três anos de curso, por volta dos 19 anos, ele abandonou a Engenharia para se dedicar à Astronomia de campo no Mato Grosso, no centro do Brasil, para medir as coordenadas geográficas no interior do país. Entretanto, pegou malária e teve que voltar para o Rio de Janeiro e, dizem os biógrafos, que ele voltou transformado para o Rio de Janeiro. A essa altura ele tinha vinte e poucos anos. Ao voltar para o Rio de Janeiro, se dedicou sempre à Engenharia, normalmente no campo das telecomunicações e da eletrônica. Então, trabalhou por um tempo em Astronomia de campo nas cidades do interior do Rio de Janeiro, já casado com a Diva Corção. Depois, trabalhou na companhia Força e Luz do Rio de Janeiro e em eletricidade industrial em alguns setores do estado. Depois, na Radiobrás.

Uma coisa interessante que demonstra o espírito empreendedor e a capacidade do Gustavo Corção é que ele participou do grupo que foi responsável pelas primeiras transmissões de rádio transoceânicas da América Latina. Ele e um companheiro dele, Carlos Labombe. Então, Gustavo foi pioneiro nesse campo da engenharia aplicada às telecomunicações. Ele também participou como técnico responsável da primeira iluminação do Cristo Redentor. E, acho que isso diz muito, e é até simbólico sobre Gustavo Corção, que na verdade ele também iluminou e ilumina ainda hoje as mentes, illumina o Brasil com a luz de Cristo, com a sua doutrina, seus escritos. Dissipa as trevas da dúvida de tantas pessoas que buscam a Cristo, às vezes com dificuldade, com obstáculos no caminho, e ele continua com esse papel de iluminar o Cristo redentor no Brasil.

Um dado interessante, é que ele ia se embrenhando na técnica, na Engenharia, e foi perdendo a fé do batismo, se tornando totalmente cético e se aproximando muito do comunismo. Mas ele sempre teve muitas amizades. Inclusive, essas amizades frequentavam muito a casa dele. Como ele relata no primeiro livro dele, “A descoberta do outro” escrito em 1944, após a conversão dele, ele teve a fase bastante cética, bastante envolvida só com a ciência, com a Engenharia, com os galvanômetros… e que praticamente havia uma célula comunista na casa dele, ou quase isso. Eram amigos simpatizantes do comunismo. E eles iam com muita frequência à casa dele à noite. Algumas vezes até para jantar. Ele se viu envolvido nisso até que ele quase foi assumindo compromissos mais sérios com o comunismo, com uma outra célula comunista. Até que a mulher dele, sempre muito católica e dedicada à religião, morreu e isso foi um grande impacto para ele. Tudo o que ele acreditava desmoronou de uma certa forma. E, para ele, chamou muito a atenção a visita de um frei franciscano que foi levar os últimos sacramentos e a comunhão para a mulher dele.

A mulher dele sempre foi uma influência muito positiva para ele, com críticas à essas posições comunistas que ele tinha. Ele fala no “A descoberta do outro” que, um dia, a mulher dele lançou uma frase para ele que foi implacável. Depois de ter discutido com os amigos propondo problemas para solucionar as questões do mundo, as misérias do mundo e tudo mais, foi deitar. Ele se encontra com a mulher, ela vira para ele e diz uma frase implacável: “vocês são ridículos” [risos]. Aquilo foi um baque tremendo para ele. Ele dizia que muitas vezes à noite, quando ele ia dormir, ele esperava a mulher dormir pois tinha medo que ela lançasse sobre ele uma frase razoavelmente implacável.

 

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