Joathas Bello
Hugh Benson e a crise da modernidade.
Boa Tarde! Eu sou o professor Joathas, professor de filosofia. Me convidaram para fazer essa palestra sobre Robert Hugh Benson no congresso de literatura católica e eu com muita alegria aceitei o convite. Aliás, eu propus o autor porque acho que ele tem uma obra muito interessante para compreender o nosso tempo. Quem foi Robert Hugh Benson? Robert Hugh Benson foi, primeiro, um inglês nascido em 1871. Tornou-se sacerdote anglicano aos 25 anos de idade. Depois, ele estudou o catolicismo. Ele era da High Church, ou seja, da parte da igreja anglicana que é mais similar a Igreja Católica. Estudou o catolicismo com afinco e se deu conta da verdade do catolicismo, se converteu ao catolicismo e recebeu a ordem do sacerdócio na Igreja Católica. Ele foi na esteira daquele movimento católico iniciado pelo Cardeal Newman, grande converso anglicano do final do século XIX. Preparou também o caminho para Chesterton, Tolkien, também do grande anglo-católico C. S. Lewis, que não chegou a se converter ao catolicismo, mas foi muito próximo.
Robert Hugh Benson tem uma obra literária não muito grande, mas importante. O seu principal romance, que irei abordar nesta palestra, é “O Senhor do Mundo”. É uma espécie de romance apocalíptico, literalmente, que fala de uma determinada situação que corresponde a do tempo do fim, inclusive, termina com o final mesmo. Mas o mais importante e o mais interessante dessa obra é que ela tem um caráter profético, no sentido de que ele escreve em 1906 e prevê certos acontecimentos que ainda não poderiam ser tão bem vistos, como se tivesse mesmo tido um acesso profético e místico ao futuro.
A história começa com um prólogo muito interessante onde um senhor católico inglês, explica a situação do mundo, das últimas décadas (é um romance futurista), o que teria acontecido para se chegar àquela situação. Ele conversa com dois padres, o padre Francis e o padre Percy Franklin (que é o protagonista da história). Então, ele vai contando como a situação do mundo chegou a um tal estágio, uma tal configuração política, em que se tem uma Europa Unida (como que prevendo a União Européia), uma América e por outro lado um Império do Oriente. Ele prevê uma grande guerra que começaria em 1914 e prevê também uma revolução comunista em 1917. Só que na Inglaterra. Quer dizer, ele não pensou na Rússia, mas pensou na Inglaterra que era o país mais industrializado, como Marx teria pensado. Em 1917, se dá uma revolução comunista na Inglaterra e, na verdade, o comunismo toma conta de todo o mundo ocidental. Ele teria sido uma maquinação da Maçonaria.
A Maçonaria domina na América, mas o comunismo está instalado na maior parte da Europa. No Império do Oriente, existe uma religiosidade oriental difusa que inclui os taoístas, os budistas e o Islamismo do sufismo islã, quer dizer, essa parte mais panteísta, mais esotérica. É interessante que ele traça três grandes blocos políticos e três grandes blocos filosóficos. Esse Panteísmo do oriente, esse humanitarismo secularista europeu do comunismo com a Maçonaria por detrás, e uma alternativa que é o Catolicismo. O catolicismo sobrevive aos trancos e barrancos nesse mundo dominado pelo comunismo, de uma forma muito precária pois perdeu a maioria dos fiéis. Só que os fiéis cristãos de outras denominações passam todos para a Igreja, pois a Igreja é a única que ainda resiste espiritualmente neste tempo do fim.
O materialismo é a visão que domina na Europa humanitarista. A psicologia empírica-científica conseguiu grandes avanços e consegue convencer as pessoas de que não tem o espírito. Quer dizer, Benson foi um homem que tinha uma capacidade profética de prever as coisas que é impressionante e a leitura desse prólogo já vale o livro porque parece nos situar bastante bem em nosso tempo presente. Nós temos uma corrente, digamos assim, liberal-maçônica e outra mais secularista-progressista-comunista, que fazem essa dialética que é própria da modernidade, e, correndo por fora, temos uma corrente mais panteísta, que inclui o Islã. Quer dizer, hoje em dia, a gente falar das três grandes, digamos assim, tentativas de novo ordenamento global temos o Islã, o Comunismo e o Capitalismo Globalista também. Enfim, ele fala disso mais ou menos. Não com esses termos, não com essa formalização. Mas ele já deixa entrever essas coisas. Só por isso, “O Senhor do Mundo” já é uma leitura indispensável.
A história se desenvolve em torno do personagem que é o Padre Percy Franklin. Ele é um padre católico que tem uma função dentro da Igreja da Inglaterra, onde ainda é permitido o Catolicismo. Meio que como hoje, como uma coisa privada, sem muito valor dentro da vida cultural e da vida política. Mas ele tem a função de escrever sobre a situação da Inglaterra a um Cardeal próximo do Papa. Ele passa as notícias e faz uma crítica teológica e filosófica e ele então se torna muito importante. Sobre outros personagens importantes no livro, antes de continuar com o Padre Percy Franklin: tem um deputado inglês, que é o Oliver, e a sua esposa, que são personagens importantes e tem o Felsenburgh, que é uma espécie de político, que age meio que nas sombras e vai resolvendo as questões. Felsenburgh é uma espécie de diplomata que vai conciliando as nações em guerra e vai trazendo a paz.
De repente, esse personagem que era obscuro, começa a ganhar um destaque tal que vai se transformar em uma espécie de presidente do mundo. Na história, ele tem uma origem ligada à Maçonaria e ele então se impõe à Europa e consegue também a paz com o Oriente. Isto é, consegue a fraternidade e a paz universal sem o Cristo e sem o Catolicismo.
Com relação à Igreja Católica, não só o Vaticano, mas toda Roma ficou a cargo do Papa. Lá é uma espécie de resquício das eras antigas da modernidade pré-século XX. Tudo lá é antigo. Como se fosse uma janela para o passado (ou para o eterno talvez) e lá o Papa tem sua liberdade política e só ali os católicos gozam de plena liberdade religiosa. No resto do mundo, eles estão espalhados. Em um determinado momento, já com a subida do Felsenburgh ao poder mundial, o padre Franklin vai até o Vaticano e faz uma proposta por meio de um Cardeal ao Papa pois ele acha que a única chance de reverter esse quadro é criar uma nova ordem religiosa onde se fizesse uma espécie de juramento de fidelidade absoluta ao Papa e de disposição ao martírio. Que fosse pessoas de todo o tipo (homens, mulheres, padres) e que se consagrassem à essa disposição ao martírio. E isso começa a dar certo.
No final das contas, a história é a história do padre Franklin, que é muito parecido fisicamente com o Felsenburgh conforme se conta na história, que vai subindo na hierarquia católica. O Papa faz a ordem conforme ele solicita e quando o Papa morre, o padre Franklin é escolhido como o novo Papa.
