O Anglo-Catolicismo de C.S. Lewis.

Gabriele Greggersen

O Anglo-Catolicismo de C.S. Lewis.

 

Vamos falar um pouquinho sobre o autor chamado C. S. Lewis. Ele tem origem Irlandesa, nasceu em Belfast em 1898 e veio a falecer em Oxford em 1963. Esse ano comemoramos 120 anos de seu nascimento. Enfim, nós temos alguns momentos importantes da vida dele, como a infância, principalmente o episódio da mãe dele, quando ele tinha de 8 para 9 anos de idade, em que ela veio a falecer de câncer. C. S. Lewis veio de um lar cristão. A mãe dele era filha de um pastor presbiteriano. O pai era anglicano. A família toda era anglicana. Então, nesse período, ele orou a Deus para que Ele curasse a mãe dele e isso não aconteceu, o que foi uma grande decepção religiosa na vida dele. Mas depois aconteceram outras coisas. Esse não foi o único motivo pelo qual ele acabou caindo no ateísmo. Foi, principalmente, a experiência escolar dele. Ele passou por várias escolas experimentais pois quando o pai perdeu a esposa, se desequilibrou emocionalmente e não se via capaz de cuidar da educação do Lewis e do irmão mais velho dele, o Warren.

Então, ele resolveu colocar os meninos em colégios internos.  Esses colégios marcaram negativamente a vida dele. Principalmente um que era confessional, cujo diretor foi depois internado como louco. Ele passou por coisas terríveis nesses colégios, principalmente com a questão das gangues (hoje chamado bullying), porque ele gostava muito de bibliotecas, não era chegado aos esportes, tinha uma deficiência na mão… ele sofreu bastante nesses colégios, até que um dia o pai disse: “ok”, quando já não aguentava mais a reclamação do filho sobre as escolas, uma após outra, “então, tudo bem. Eu vou contratar um professor particular para você ter aulas homeschooling.”.

Era um professor que ele havia tido na infância e tinha toda uma educação nas artes liberais clássicas: grego, hebraico, o trivium, o quadrivium. Então, ele aprendeu com esse professor, que era ateu, muitas coisas importantes da cultura geral. Ele aprendeu tanto línguas, como os autores, os filósofos, e conseguiu entrar em Oxford. Foi nessa época, mais ou menos, que ele também já havia passado pelo ateísmo e estava de namoro com a antroposofia.

C.S. Lewis entrou em Oxford e, assim que entrou em Oxford, conheceu o Tolkien. Ele escreve no diário que havia conhecido um grupo de cristãos e “pasmem, eles também são inteligentes!” [risos]. Ele coloca isso como uma observação no diário. Aliás, os diários dele podem ser lidos até a conversão e são muito interessantes de serem lidos pois há toda uma perspectiva de vida dele anterior a conversão. Tem o episódio dele ir para guerra, de conhecer um rapaz com quem ele fez muita amizade e com quem ele fez o pacto de cuidar da mãe dele caso ele morresse, ou se o Lewis morresse rapaz cuidaria do pai dele. Esse amigo morreu e ele cuidou da mãe dele pelo resto da vida, conviveu com ela o resto da vida. Também marcou a vida dele esse episódio da guerra. Mas, principalmente, a amizade com esse grupo que depois ele reatou e fundaram também um clube chamado Inklings. Mas antes deles fundarem esse clube, ele teve uma conversa memorável com o Tolkien, pois naquele meio tempo ele se deu conta de que não só ele tinha adquirido amizade de pessoas cristãs e tinha simpatizado bastante com eles, como também de que todos os livros que ele gostava eram livros de autores cristãos.

Então, ele diz no diário que para onde ele fugia, não havia jeito, Deus o perseguia. Ele diz que Deus é o grande caçador e ele é a caça. Enfim, para todo o lado que ele olhava haviam cristãos, havia literatura cristã. Chesterton, principalmente. Mas também George MacDonald, que foi um autor de contos infantis e também pastor presbiteriano que o influenciou profundamente. Tanto que ele tem uma antologia dedicada à George MacDonald. Ele diz que ele conheceu o autor na adolescência e que, antes de se converter, quando ele ainda era ateu, foi quem batizou a imaginação dele. Então, ele descobriu uma coisa muito importante: até então ele tinha fugido de Deus. Ele queria evitar ao máximo que Deus interferisse na vida dele e ele percebeu que aquelas pessoas que fecham as portas para Deus, por algum trauma, alguma mágoa contra Deus, algum problema psicológico, enfim, elas fecham sua mente racional para Deus mas deixam a porta dos fundos abertas, e essa porta dos fundos, depois o Lewis descobriu que é “joy”, a imaginação.

Joy” que é um termo técnico, virou termo técnico no linguajar Lewisiano, é também o título da autobiografia dele, “Surprised by Joy”. O que é Joy? Joy é aquele sentimento, aquela saudade que você tem, em alemão tem um termo técnico da filosofia que dá conta desse joy, que é sehnsucht, que é a “saudade” do brasileiro. É aquele sentimento que não se pode definir exatamente o que vem a ser, mas que é um afã, um desejo profundo por algo que no fundo nós não temos acesso, mas que por ser tão contundente você sabe que ele tem que existir. Há uma outra passagem que o Lewis compara esse desejo à uma vontade de comer chocolate, por exemplo. “Ora, se existe a vontade de comer chocolate, então é porque chocolate existe”. Nenhum índio, que morou na Amazônia a vida toda, vai ter desejo de chocolate. Para ele, o chocolate não existe. Só quem provou, isso arquetipicamente, em algum momento da história universal, só quem provou lá no passado, lá no paraíso, provou dessa coisa pela qual nós temos afã, temos busca, temos desejo, é que pode ter esse desejo por essa coisa. Então, se nós temos esse desejo por algo que vai além do aqui e agora, que é indescritível, que é intangível, que transcende tudo, isso é o sinal de que essa coisa tem que existir.

Deixe um comentário