Miguel López
Thomas Mann
Meu nome é Miguel López da Silveira e já a um bom tempo estudo a obra e a figura de Thomas Mann, que será o assunto da minha palestra hoje no congresso de literatura católica. Thomas Mann é uma personagem bastante importante, talvez o maior romancista alemão do século XX, e apesar dessa literatura do século XX que ele compõe, temos como característica de Thomas Mann, uma literatura muito voltada, em suas características e em sua forma, à literatura do século XIX. Thomas Mann é um escritor que trabalha bastante com a função da tradição. A tradição da literatura, os temas tradicionais da literatura, que ele resolve trabalhar, estão sempre presentes em sua obra. Dentre elas, a religião. Por isso, escolhi Thomas Mann como um dos personagens que podem falar um pouco para nós o que é essa literatura católica.
Apesar de não ser Católico, Thomas Mann, traz temas que são bastante perenes e bastante importantes na literatura católica e que fazem com que esse diálogo surja dentro de suas obras e também, como poderemos ver mais a frente, dentro de sua própria vida.
Thomas Mann nasceu dia 6 de julho de 1875. Ele era filho de um industrial e senador alemão e filho de uma brasileira, Julia da Silva Bruhns. Foi um dos mais famosos filhos do casal sendo que seu irmão mais velho, Heinrich, acabou se tornando também escritor. Esses dois escritores, apesar de divergências em alguns momentos da vida, sempre vão nos trazer na sua literatura obras que façam com que pensemos um pouco e trabalhemos sobre o que são temas como a morte, a decadência, o papel do artista e assim por diante.
A religião está bastante presente na obra de Thomas Mann. De alguma forma, sempre entre os personagens, às vezes centrados em artistas, há uma relação com a religião fazendo parte desse pano de fundo da cultura em que eles vivem e se manifestam. E também em obras um pouco mais explícitas. Um exemplo disso é a tetralogia “José e seus irmão”, em que Thomas Mann pega umas das passagens do final do Gênesis e transforma em um grande épico de quase 2000 páginas em que ele desenvolve a história do personagem bíblico José do Egito.
Umas das coisas que faz com que Thomas Mann trabalhe bastante com a questão da religião é esse processo de dissolução desse mundo antigo pois ele vive essa passagem do mundo do século XIX para o início do século XX, das primeiras décadas. São décadas conturbadas, onde ele passa por duas guerras mundiais e isso deixa profundas marcas na literatura desse escritor. Dentre esses personagens, alguns terão uma relação muito forte com a religião. Exemplo disso é o personagem Nafta, um jesuíta com tendências socialistas dentro de “A montanha mágica”. O personagem Gregórios, que vai ser o protagonista de sua obra “O eleito”, que ele trata sobre a eleição de um Papa, uma das lendas que ocorrera na ideia média sobre a eleição do Papa Gregório; e, obviamente, José e seus irmãos.
Temos também, que vai ser o foco da nossa palestra, o próprio Fausto. O mito de Fausto é um mito que está presente durante vários séculos na cultura alemã. Ele surge no início do século XVI, na época de efervescência da reforma protestante. Essa obra vai nos trazer esse primeiro Fausto, um personagem lendário que é o estudioso alquimista Georg Faust. Esse Georg Faust, apesar de ter muito conhecimento sobre as ciências naturais e a teologia, ele busca um maior conhecimento. Essa sede de conhecimento e de juventude faz com que ele busque um pacto.
Esse pacto é o pacto fáustico, que nós chamamos. Onde, a partir do sangue, ele vai fazer esse pacto com uma divindade demoníaca, no caso, Mephistofeles. Mephistofeles vai aparecer como uma figura demoníaca que faz esse pacto em que durante 24 anos dará genialidade a esse personagem, o Fausto. Após esses 24 anos, a alma desse personagem é dada em troca para Mephistofeles. Essa narrativa, durante muito tempo, acabou sendo obra de livros mais populares na literatura alemã. E logo após, passou a fronteira da Alemanha e se tornou em um personagem lendário em diversas literaturas. Um dos exemplos que nós temos é o dramaturgo inglês Christopher Marlow, contemporâneo de William Shakespeare, que vai produzir sua maior obra, “A trágica história do Doutor Fausto”.
E a partir daí, Fausto vai ter inúmeras adaptações. A adaptação mais famosa é a que Goethe faz no seu Fausto. Esse Fausto de Goethe é dividido em duas partes, e vai trazer certas inovações técnicas e temáticas ao mito fáustico.
A obra também é bastante utilizada na área da música. É importante que se diga, pois, artistas vão fazer o mito Fáustico também como um assunto para suas obras musicais, como Gounod e Tartini. É importante que se diga sobre esses assuntos musicais do Doutor Fausto, justamente porque Fausto traz um tema que é muito caro a todos nós que é a presença do mal e a presença da salvação divina.
O Fausto, inserido nesse contexto protestante, vai tratar também da questão da predestinação. A predestinação que ocorre no Fausto pode ser vista no momento em que, buscando salvar sua alma, ele não mantém mais a esperança de que possa ter essa salvação, pois, afinal de contas, se ele comprou em um pacto demoníaco é porque sua alma já estava perdida realmente e não havia salvação que fosse capaz de alcança-lo do fundo desse inferno. Isso faz com que o tema da predestinação, tão abordado pelos protestantes e também pelos humanistas alemães e europeus do século XVI, se torne algo muito presente em todos esses Faustos que são seguidores a esse primeiro personagem lendário.
